O pânico voltou a predominar na bolsa de valores de Nova York. Os principais índices acionários norte-americanos confirmaram perda da média móvel simples de 200 períodos diária nesta quarta-feira dramática.
Uma primeira tentativa de rompimento descendente ocorreu no início do mês de outubro, entretanto, na semana passada, houve contra ataque da força compradora atuando na defesa desta importante média, que por sinal é acompanhada de perto por vários investidores, operadores e gestoras de recursos no mundo inteiro, justamente por ser considerada uma linha (média) divisora de águas para determinação de uma tendência de mercado de médio prazo e importante guia para operações de swing trade e position trade.
O contra ataque dos touros surtiu efeito por alguns dias. A ponta compradora do mercado conseguiu manter os principais índices acionários dos Estados Unidos acima da média móvel simples de 200 períodos diária, caracterizando movimento clássico de bear trap, onde a média anteriormente perdida foi recuperada com rapidez.
No início desta semana a força vendedora começou aparecer novamente em Wall Street e a manutenção dos preços acima da referida média voltou a ser ameaçada. Um novo movimento de sell-off estava ganhando força e nesta quarta-feira a bola de neve se transformou numa avalanche, confirmando rompimento descendente da média móvel simples de 200 períodos diária.
Após sofrer bear trap na média móvel, os ursos revidaram armando uma armadilha com intensidade maior no pregão de hoje, caracterizando movimento de bull trap, acionando stops de posições compradas abertas recentemente. Muitos no mercado foram pegos desprevenidos com esta nova onda de sell-off, até porque não há sinal de recessão e a temporada de balanços está positiva. Das 140 empresas do S&P500 que já divulgaram seus números do terceiro trimestre deste ano, 81% registraram lucro por ação acima das expectativas dos analistas.
A própria imprensa internacional que faz a cobertura do mercado de capitais está meio perdida. Alguns citam que a correção atual no mercado é fruto de um erro de política monetária do FED (estaria elevando os juros rápido demais), outros dizem que é um reflexo da desaceleração do crescimento econômico global, fraqueza da China (PIB abaixo das expectativas divulgado semana passada), Brexit, orçamento na Itália, aproximação do fim dos estímulos monetários na Europa, preocupação com mercados emergentes vulneráveis (vide últimos acontecimentos na Argentina e Turquia), deterioração nas relações comerciais entre Estados Unidos e China e até mesmo implicações políticas do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Pode até ser que os investidores estão demonstrando certa ansiedade com todos estes temas delicados, mas parece que fator de decisão para o sell-off em Wall Street está
na curva da Treasury.
A primeira onda vendedora, responsável por jogar os índices acionários para a média móvel simples de 200 períodos diária rapidamente, ocorreu no momento em que a taxa de juros da Treasury de 10 anos fechou de 3,23% para 3,14% ao ano. A tentativa de contra ataque da força compradora vista na semana passada ocorreu justamente por conta da última abertura de curto prazo da Treasury, saindo de 3,14% para 3,20%.
Agora, com a taxa de juros da Treasury recuando para 3,10% ao ano, pode-se notar claramente formação de um ponto de equilíbrio na região dos 3,20%. Isso significa que a curva, até então fortemente aberta, começou a fechar. Em mercado de curva aberta, perde-se dinheiro quando se posiciona em ponta comprada. Por outro lado, em mercado de curva fechada, ganha-se dinheiro quando se posiciona em ponta comprada.
É possível imaginar que alguns players de mercado estavam aguardando janela de entrada para se posicionarem comprados em Treasurys, até porque o prêmio atual está muito atrativo em relação ao praticado nos últimos anos. Bastou a Treasury sinalizar formação de um ponto de equilíbrio, revelando esgotamento no movimento de abertura de curto prazo, para a renda fixa mais segura e líquida do mundo atrair capital de hedge funds.
O tombo de 0,10 p.p. em apenas dois dias denuncia compras volumosas recentes. Com o mercado comprador em Treasurys, os ativos de risco tendem a sofrer. Afinal de contas, o fluxo comprador em Treasurys não brota do chão. O dinheiro tem de sair de alguma outra classe de ativo e, neste momento, os players estão dando preferência para desmonte de posições de risco, afetando, consequentemente, o mercado de ações de várias praças financeiras mundiais.
No Brasil, a contaminação do movimento de sell-off global tem sido muito pequena, em função das expectativas otimistas criadas a partir de uma possível vitória do candidato Jair Bolsonaro no segundo turno.
Entretanto, a blindagem brasileira enfraqueceu nesta quarta-feira, com o Ibovespa recuando para os 83k, principal ponto de sustentação de curto prazo. A perda deste patamar de sustentação poderá fragilizar a força amortecedora da média móvel simples de 200 períodos diária atualmente na região dos 80,5k, deixando a praça brasileira vendida novamente.