Em comunicado divulgado ao mercado na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada nos dias 17 e 18 de março, o Banco Central deixou claro que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, acrescentando, ainda, que neste momento vê como adequada a manutenção, com novos cortes na taxa Selic no patamar de 3,75% ao ano.
Cautela?
Apesar de as projeções de inflação na última reunião do Comitê estarem bem favoráveis (próximo de 3%), a postura mais cautelosa com os próximos passos da política monetária creditou certa relevância às frustrações com relação à continuidade das reformas. Entretanto, este fator pode estar perdendo força neste momento.
A resposta à crise do coronavírus arrebentou com o fiscal.
A última estimativa do IFI (Instituto Fiscal Independente) aponta para um endividamento alcançando 100% do PIB em 2030. Não há mais perspectiva de sustentabilidade das contas públicas no longo prazo, considerando o custo de rolagem atual.
Novos cortes na Taxa Selic
Existe claramente, portanto, uma nova força para que a taxa Selic possa continuar caindo e continue muito baixa por alguns bons anos. Desta forma, o Brasil conseguiria comprar tempo com o mercado até começar tentar desarmar a bomba fiscal que poderá estourar no longo prazo.
Será conveniente cortar não somente a taxa Selic, mas também adotar a estratégia de redução das taxas de juros futuros longas, o que mantém o mercado aberto para empresas e governos continuarem captando recursos.
A meta de controlar os juros longo é utilizada atualmente por vários outros banqueiros centrais mundiais, incluindo as três potências monetárias: FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), BoJ (Bank of Japan) e BCE (Banco Central Europeu).
Pressão externa para novos cortes
A segunda fonte expressiva de pressão para novos cortes na taxa Selic vem da própria economia. Na última semana, tanto o FMI (Fundo Monetário Internacional), quanto o Banco Mundial, divulgaram suas respectivas perspectivas para o PIB do Brasil em 2020.
Ambas as instituições estão com projeções alinhadas em torno de uma recessão histórica de 5% neste ano.
Aliado ao cenário base de contração muito aguda da atividade, as estimativas mais recentes do mercado para a inflação este ano são muito baixas. Para 2020, o levantamento mais recente do Boletim Focus aponta para um IPCA de apenas 2,23% número que, se confirmado, ficaria até mesmo abaixo do piso mínimo da política de meta de inflação para este ano.
A inflação extremamente baixa, com um histórico favorável dos últimos anos, pode permitir que o Banco Central estude atuações ainda mais firmes de afrouxamento monetário.
A terceira fonte de pressão (ou influência) vem dos demais banqueiros centrais mundiais. Todas as autoridades monetárias estão cortando suas respectivas taxas de juros desde o início da pandemia e cada vez mais bancos centrais alcançam o nível de juros zero. Nesta semana, a China anunciou seu segundo corte em sua taxa de juros referencial de empréstimo desde o início do surto do coronavírus.
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Exemplos
Alguns casos emblemáticos de países emergentes, vulneráveis, altamente endividados ou em conflitos geopolíticos começaram a surgir. A Hungria, por exemplo, com um longo histórico de graves problemas com o endividamento local, opera neste momento com taxa de juros simbólica de 0,90% ao ano.
Na Arábia Saudita, a taxa de juros caiu para 1% ao ano.
Na Austrália e Nova Zelândia os juros já estão em 0,25% ao ano. A Coreia do Sul, mesmo demonstrando certa eficácia no controle da pandemia, opera com juros de 0,75% ao ano. No Chile, a taxa básica de juros cedeu para 0,50%. Em Israel a taxa de juros também se tornou apenas um simbolismo, aos 0,1% ao ano.
A próxima reunião do Banco Central do Brasil ocorrerá nos dias 5 e 6 de maio. Considerando todos os pontos elencados acima, existe expectativa de novidades em nossa política monetária.
