Em função dos diversos estímulos dos banqueiros centrais ao redor do mundo, como o FED, a precificação do mercado quanto à retomada da normalidade nas principais economias globais parecia um pouco exagerada pelo desempenho dos ativos de risco nas últimas semanas.
Vários índices acionários de países desenvolvidos e emergentes tinham recuperado boa parte das perdas sofridas na primeira onda da crise do coronavírus. Alguns mercados estavam quase se aproximando novamente de suas respectivas máximas históricas, a exemplo do que se observava em Wall Street.
Fim do entusiasmo
A euforia da retomada terminou com o mesmo driver que a criou.
As estratégias agressivas de afrouxamento monetário praticadas pelos banqueiros centrais, puxadas principalmente pelo FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), viraram os mercados rapidamente de bearish para bullish.
Nesta última quarta-feira, as projeções sombrias do próprio FED podem ter relembrado vários players de mercado da realidade extremamente delicada do momento, voltando a criar sentimento bearish.
A expectativa da autoridade monetária norte-americana para o PIB deste ano foi atualizada para uma forte contração de 6,5%. Para 2021, espera-se um crescimento de 5%, insuficiente para repor toda a perda de riqueza esperada para este ano.
As projeções para a taxa de desemprego revelam o tamanho do delay da recuperação econômica.
O que o FED espera para os próximos anos?
Para 2020, o FED espera um desemprego de 9,3%. Em 2021, o Banco Central dos Estados Unidos prevê um desemprego ainda elevado, aos 6,5%. Em 2022, a projeção de desemprego recua para 5,5%, ainda em patamar considerado alto, principalmente quando comparado aos números mais recentes antes da pandemia.
Além dos indicadores preocupantes de desemprego, a inflação tende a ficar abaixo e distante do centro da meta de 2% ao ano, o que pode criar um risco adicional de deflação ao quadro macroeconômico. Para este ano, o FED espera uma inflação de apenas 0,80%.
Ações do FED, BCE e outros bancos centrais
Banqueiros centrais de países desenvolvidos, principalmente BCE (Banco Central Europeu) e FED, tem feito o possível nos últimos anos para evitar que suas economias caiam em deflação, com receio de repetir o case observado no Japão décadas atrás.
Neste cenário de inflação muito baixa, desemprego elevado e PIB fraco, o FED ressaltou que não pretende subir a FFR (Federal Funds Rate – taxa básica de juros norte-americana) para acima de zero até pelo menos 2022. Além disso, os programas de compras de ativos extremamente volumosos serão mantidos até que a economia volte aos trilhos.

O gráfico de pontos do FED acima revela bem a imagem desta crise atual.
Juros zero até quando?
Nunca antes na história a quase totalidade dos membros do Comitê projetaram juros zero por mais de dois anos consecutivos, combinado, ainda, com a promessa de manter os programas de compras de trilhões de dólares, responsáveis por elevar o balanço da autoridade monetária para novo nível recorde.
As projeções divulgadas pelo FED fizeram muito barulho no mercado global justamente por serem os primeiros números divulgados desde o início da pandemia. A diferença com a estimativa anterior da autoridade monetária, feita antes da crise, é absurdamente gritante, o que mostra como o quadro para as economias e os mercados podem mudar rapidamente.
Essas mudanças bruscas de humor e cenário estão se tornando cada vez mais frequentes e podem ser uma característica relevante a ser considerada para os próximos anos, bem diferente do dinamismo da última década (longo período bullish ininterrupto), o que inevitavelmente exigirá dos investidores mais dinamismo nas alocações de portfólio.
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