A polêmica forma de injetar dinheiro novo na economia, conhecida e aplaudida no mundo inteiro como quantitative easing (afrouxamento quantitativo, na tradução literal do termo em inglês), chegou ao Brasil após o Câmara aprovar a PEC do orçamento de guerra.
Como surgiu o quantitative easing?
Criado em 2001 pelo BoJ (Bank of Japan, autoridade monetária japonesa), como forma de combater os expressivos impactos econômicos negativos originados por estouro gigantesco de uma bolha imobiliária, ainda na década de 1990, as políticas de quantitative easing permitiram a economia japonesa recuperar tração, criar empregos e voltar a crescer.
Apesar da posição relevante do Japão na economia global, demais governos e banqueiros centrais só começaram testar suas próprias políticas de quantitative easing, seguindo o modelo japonês, depois do estouro da bolha do supbrime, em 2008.
A popularização do quantitative easing
O movimento de popularização global das políticas de quantitative easing foi puxado pelo FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) em 2009, replicado logo posteriormente pelo BCE (Banco Central Europeu).
Atualmente, políticas de quantitative easing são utilizadas em vários países, pois muitos governos/banqueiros centrais enxergam a estratégia com maior eficácia para amortecer os impactos provocados por choques na economia. A crise do coronavírus, que tem provocado lockdowns no mundo inteiro, acelerou ainda mais os movimentos de quantitative easing.
Orçamento de Guerra no Brasil
Na última sexta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou em dois turnos a conhecida PEC do orçamento de guerra, que vai vigorar durante o estado de calamidade pública (até 31/12/2020), com objetivo de separar do Orçamento-Geral da União os gastos emergenciais para combater a crise do coronavírus.
Desta forma, as medidas de auxílio adotadas não acarretarão no aumento da despesa no período de calamidade pública.
Quantitative Easing no Brasil
Entretanto, o ponto principal na PEC do orçamento de guerra é autorizar o Banco Central do Brasil comprar e vender títulos do Tesouro Nacional, direitos creditórios e títulos de crédito privado em mercados secundários.
Entre outras palavras, o Banco Central poderá adquirir ativos diretamente no mercado, sem precisar passar pelo sistema bancário, o que nada mais é do que uma réplica das políticas de quantitative easing utilizadas há alguns anos/décadas em vários outros países.
O dinheiro a ser utilizado pelo Banco Central para comprar ativos no mercado será criado pela famosa impressora. Com a permissão do Tesouro, o Banco Central cria dinheiro novo, que o utiliza para comprar títulos emitidos pelo próprio Tesouro, além de títulos do mercado de crédito privado.
Efeitos dos estímulos
Em sistemas de quantitative easing, a força de atuação dos banqueiros centrais nos mercados aumenta significativamente. As compras de ativos provocam valorização dos títulos públicos, por exemplo, que passam a operar com uma taxa de juros muito baixa.
A ausência de prêmio aceitável no mercado de títulos públicos empurra players e investidores para o mercado de crédito privado high grade, que passam a consumir estes títulos de forma mais voraz.
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Na medida em que o prêmio no mercado de crédito privado high grade se torna mais achatado, há novamente uma migração de fluxo, desta vez para o mercado de crédito privado high yield.
Portanto, a atuação do Banco Central é estimuladora para a economia, já que mais empresas (high grade e high yield) conseguem se capitalizar pelo mercado financeiro, aproveitando-se das taxas de juros bem mais baixas, em função da intensa força compradora provocada pelo excesso de liquidez no sistema.
O fim do ciclo
É quando o Banco Central começa a vender os títulos comprados no passado, ou permitir os vencimentos dos mesmos sem rolagem em seu balanço, destruindo, assim, o dinheiro criado anteriormente para a compra dos ativos.
A fase da destruição do dinheiro impresso é importante para evitar produção de inflação a longo prazo. Entretanto, o fato de a inflação se manter baixa nos últimos anos/décadas em vários países que operam quantitative easing abre espaço para as autoridades monetárias não fazer a destruição, por enquanto, do dinheiro impresso no passado.
Fazer com que o sistema consiga suportar a impressão de dinheiro, compras de ativos por banqueiros centrais, sem gerar o efeito colateral da inflação é a grande sacada dos últimos anos/décadas que está aterrizando agora no Brasil, inicialmente na forma de teste durante o período de calamidade pública.
A PEC do orçamento de guerra ainda precisa ser aprovada em dois turnos pelo Senado e não vai à sanção do presidente. Caso o Senado aprove a PEC do orçamento de guerra (o que é muito provável), será promulgada pelo próprio Congresso e o Brasil definitivamente entra para a lista de sistemas que operam quantitative easing.