Diante da crise atual, os Governos das principais economias do mundo têm sido muito ativos em pacotes de estímulos econômicos e suporte a empresas e trabalhadores.
Entre eles destacam-se USA, Zona do Euro e Japão. Conforme trouxemos em posts anteriores, isso tem alavancado a velocidade e intensidade de recuperação das bolsas internacionais. Veremos a seguir o tamanho desses “pacotes” e seus desdobramentos para o mercado financeiro e de investimentos.
1. Política Monetária Expansiva

Além dos estímulos monetários convencionais (corte nas taxas de juros), os Bancos Centrais têm aumentado absurdamente a oferta dos QE’s pacotes de flexibilização monetária. Na prática esses pacotes são injeção de dinheiro na veia do sistema financeiro, comprando títulos públicos e privados para fornecer liquidez aos mercados.
QE’s + Juros real negativo = crédito e liquidez “infinita”, para que nessas economias desenvolvidas, não faltem estímulos econômicos positivos para banqueiros, investidores, empresários e consumidores.
Na Grande Depressão de 2008, os pacotes do FED somaram mais 4 Trilhões de dólares, distribuídos ao longo de 6 anos; a poucos anos atrás isso era considerável inacreditável e surreal para a política monetária.
Nesta crise atual, o valor dos pacotes já ultrapassou a casa dos 5 trilhões de dólares em apenas 2 meses. Isso faz parecer a injeção na crise de 2008 conservadora.
2. Política Fiscal Expansiva

Do lado fiscal, os valores são ainda mais assustadores, os estímulos econômicos já totalizam 9 trilhões de dólares globalmente. EUA, Alemanha e Japão estão entre os países que imprimiram mais de US$ 1tri em moeda.
Esses valores são totalmente sem precedentes, diante disso é normal os questionamentos da sociedade em geral aparecerem:
Por que estes países conseguem usar toda essa munição artificial e continuam sendo referência em segurança financeira e econômica?
Por que o Brasil não faz o mesmo e salva sua economia que está entrando em colapso (segundo palavras do próprio Ministro Guedes)?
3. Qual limite de expansão dos estímulos econômicos e endividamento?

Para responder essa pergunta, vamos dividir em tópicos este assunto que é muito complexo e provavelmente o mais relevante no debate econômico mundial desde 2001. “Macroeconomicamente” falando, quais seriam os principais indicadores afetados caso um país expanda sua dívida acima de um limite saudável?
a – Moeda: Todos países que estão expandindo muito os gastos fiscais e monetários, possuem moedas conversíveis, ou seja, são moedas que funcionam como reserva de valor e aceitas em praticamente todo comércio internacional mundial: Dólar, Euro e Iene, nessa ordem de importância. O Real não possui nenhum valor internacionalmente, zero, nem do ponto de vista de reserva de valor, como do ponto de vista de negócios internacionais;
b – Inflação: Ao “injetar” dinheiro na economia, aumentaria o poder de compra de todos agentes econômicos elevando o preço dos ativos, bens e serviços. Um quadro como esse poderia enfraquecer a moeda pela perda de seu lastro, descontrolando os preços e corroendo o poder de compra de toda sociedade (Império Romano quebrou assim);
c – Juros: Os juros futuros e os bonds (prêmio pago ao investidor de determinado país para rolar sua dívida) levam em consideração 2 principais fatores: Risco e retorno. Risco primeiramente de calote ou insolvência daquela nação (histórico conta muito). Retorno é o valor recebido de rentabilidade entre os juros pagos e a variação da moeda local (conforme citado acima). Valores descontrolados de juros poderiam tornar impagável uma dívida, fazendo com que o Estado desse calote nos investidores e acabando com investimentos e toda estrutura econômica da nação;
d – Dívida/PIB: Por muito tempo cientistas econômicos estimavam um percentual aproximado de limite de valor de endividamento público, em relação ao PIB, para cada nação. Isto vem sendo abandonado ao longo do tempo, de 50% para 80%, para 100% e já vemos hoje países como o Japão com 250% de Dívida/PIB sem gerar desestabilidade macroeconômica. Este ponto está cada vez mais sendo abandonado no debate sério da teoria econômica mundial, o limite de endividamento público, e da atuação da política monetária, está muito mais condicionado a uma junção dos 3 primeiros pontos, do que propriamente a um número específico.
Diante dos 3 principais indicadores, qual o limite de endividamento para países como Estados Unidos, Zona do Euro e Japão?
Moeda: Nenhum limite atualmente, moedas seguem se valorizando.
Possuem moeda como reserva de valor e aceita internacionalmente, diante da crise, a demanda por dólar, euro e iene aumentou internacionalmente. Portanto o Governo pode expandir sua base monetária que continua tendo mais demanda do que oferta.
Inflação: Nenhum limite atualmente, índices seguem abaixo da meta.
Todos os países citados estão mais próximos à deflação do que inflação, por três principais motivos: Primeiro a perspectiva é de queda de PIB e desaquecimento da economia. Segundo porque grande parte do dinheiro acaba ficando no mercado de capitais, concentrado em bancos e investimentos financeiros. Terceiro porque novas tecnologias estão remodelando negócios e empresas, deixando o custo de vida das pessoas indiretamente mais baratos.
Juros: Nenhum limite atualmente, juros em patamares historicamente baixos.
Títulos públicos e privados destes países seguem caindo, deixando cada vez mais barato rolar suas dívidas mesmo diante da expansão das mesmas. Na mesma lógica da moeda, viram reserva de valor em momento de crise internacional.
Resumindo:
O cenário de crise global permite atualmente que esses países aumentem seus estímulos econômicos sem gerar consequências de curto prazo para os indicadores macroeconômicos. O grande problema será a necessidade de retirada desses estímulos econômicos quando a economia começar a melhorar. Politicamente será difícil, dada onda de Governos populistas ao redor do mundo, alguns nas principais economias como Estados Unidos e China.
Hoje ainda não temos indicadores preocupantes, mas se essa arquitetura financeira não for desmontada gradativamente nos momentos certos (período de crescimento econômico impulsionado pelo capital privado), pode gerar um quadro muito negativo no futuro.
Alguns efeitos colaterais seriam rápidos como em 2008, criando bolhas (inflação muito alta) nos ativos, ao ponto de resultar em crises financeiras globais.
Outros mais gradativos, na economia real, com níveis de inflação acima do aceitável, desvalorizando a moeda, subindo o risco país, pressionando os juros e consequentemente descontrolando o custo de rolar a dívida pública.
4 – Por que o Brasil não adota o mesmos estímulos econômicos?

Todos queremos que tenhamos mais recursos aplicados na economia para socorrer as empresas, os trabalhadores e a sociedade em geral. Mas a ciência econômica é pragmática e a melhor solução precisa vir da mesma análise anterior: Moeda, inflação e juros.
Inflação: Indica espaço para aumentar endividamento.
Último mês tivemos deflação e caminhamos na crise econômica abaixo da meta de inflação.
Juros: Espaço aparente, risco no radar.
Hoje estamos em patamares em recorde negativo nos juros curtos, tanto na SELIC quando no DI futuros. Então desse ponto de vista libera espaço para mais endividamento, é mais barato se endividar hoje (mesmo com a dívida crescendo) do que a 5 anos atrás no Governo Dilma com a SELIC a 14.25%.
Mas antes de nos deliciarmos neste prato populista ao concluir caminho fácil para expansão de dívida, precisamos entender o comportamento da curva de juros como um todo.
A curva brasileira é muito mais sensível do que as que relatamos nas economias anteriores. O CDS (risco Brasil) já está no maior patamar desde 2015, conforme mostramos no post anterior, isso pressiona as taxas de juros mais longas, como consequência da crise atual e dos riscos políticos acentuados nas últimas semanas.
Para alguns economistas, caso o Governa inverta o comprometimento com o ajuste fiscal, conforme vinha fazendo o Ministro Guedes, e comece a sinalizar uma expansão descontrolada dos gastos, o CDS e Juros Futuros poderiam subir rapidamente. Criando uma espiral de pressão na dívida, elevando o risco de potencial calote e exigindo maior prêmio por parte dos investidores, principalmente os estrangeiros.

Moeda: Risco alto
Sem dúvida é consenso como principal empecilho para grandes pacotes econômicos de ajudas Governamentais neste momento. Segundo analistas, a expansão da dívida (junto do ponto anterior) poderia fazer mais pressão na moeda brasileira já desvalorizada.
O real perderia mais valor, como já aconteceu em diversos países, com exemplo mais próximo e recente na Argentina. A Argentina já vive uma dura realidade a anos, onde o dólar vira o referencial econômico, portanto, muito mais exposta e sensível a oscilações internacionais, como éramos na década de 90.
Outro ponto negativo poderia ser a pressão sobre a inflação (consequentemente juros futuros), visto que temos uma fraca indústria de transformação no Brasil e importamos (em dólar) grande parte de nossos bens de consumo industrializados. Ao mesmo tempo nossas exportações, em grande parte commodities, estão em valores baixos historicamente, pressionando a Balança de Pagamentos.
Debate entre as instituições
Sem dúvida esse é um assunto complexo e muito importante para os próximos anos no país. O Governo, as instituições e a sociedade precisariam ter essa discussão como o centro do debate político.

Todos esses indicadores e fundamentos somados, nos mostram que diante de crises econômicas modernas (2001, 2008, 2020…) a hegemonia dos países de economias desenvolvidas, e com moeda de valor, aumentam ainda mais. Os países emergentes, parte de suas empresas e sua população sofrem mais em situações como a atual, o que nos leva a uma conclusão simples em nossos investimentos:
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