O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem feito críticas sobre o trabalho de Jerome Powell, chair do FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos), desde o final do ano passado. Os ataques do presidente norte-americano intensificaram nos últimos meses, alcançando ápice recentemente, quando a Bloomberg informou que um eventual rebaixamento de Jerome Powell havia sido discutido na Casa Branca.
Mesmo com o mundo inteiro reconhecendo a importância e eficácia da independência do FED, Trump não cessou críticas após o vazamento da notícia polêmica (e inconstitucional) sobre o rebaixamento de Powell. Pelo contrário, as críticas aumentaram ainda mais. O presidente dos Estados Unidos voltou a esboçar preocupação com o dólar forte demais perante as demais moedas globais, em especial contra o euro, afirmando que a situação poderia ser aliviada caso o FED baixasse as taxas de juros.
Além disso, Trump culpou o FED pelo fato de o índice Dow Jones não estar em pontuação mais elevada do que o observado atualmente (mesmo considerando que o índice acionário opera em máxima histórica) e também alega que o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos poderia estar crescendo ao ritmo de 4% ou 5% ao ano caso o FED tivesse acertado na política monetária.
O presidente dos Estados Unidos também alegou que o FED não sabe o que está fazendo, justificando o fato de a FFR (Federal Funds Rate, taxa básica de juros norte-americana) ter subido rápido demais nos anos anteriores mesmo com inflação baixa e desaceleração do crescimento global.
Trump deverá disputar as eleições presidenciais de 2020 e, possivelmente, está pensando em criar ferramentas adicionais para impulsionar ainda mais a economia norte-americana, o que seria uma forma de eliminar a possibilidade de vitória da oposição na disputa do ano que vem. Atualmente, os indicadores relevantes, como desemprego, inflação e ritmo de crescimento são muito favoráveis ao governo Trump.
Entretanto, a reeleição poderia ser inviabilizada caso algum desses indicadores apresente piora significativa até 2020. Trump quer defender o seu legado para chegar forte na campanha presidencial, por conta disso a desaceleração econômica é encarada com preocupação pela Casa Branca, apesar de não apresentar nenhum sinal de recessão.
Ciente das pretensões políticas, Jerome Powell estava evitando uma retaliação às duras críticas de Trump. A comunicação do FED no último encontro inclusive abriu as portas para cortes na FFR ainda neste ano, o que alegrou o mercado e, em tese, deveria ter surtido o mesmo efeito com Donald Trump, fazendo com que interrompesse seus ataques.
Não funcionou. Trump continuou fazendo pressões sobre o FED e Powell teve de reagir. Nesta terça-feira, o presidente da autoridade monetária norte-americana retaliou os ataques de Trump, ressaltando que a instituição está isolada das pressões políticas de curto prazo, num recado que remete à importância da independência do Banco Central.
Powell disse que o Congresso dos Estados Unidos optou por isolar o FED da Casa Branca justamente por conta dos danos observados no passado quando a política monetária foi modificada por interesses políticos de curto prazo.
Sobre a estratégia de política monetária, o chair do FED disse que ele e seus colegas (de Comitê) estão lutando para saber ser a incerteza sobre o comércio e outras questões dão suporte para um corte de juros. As declarações deixaram as portas abertas para a próxima reunião a ser realizada no dia 30 e 31 de julho, onde o mercado considera que a FFR será cortada em 0,25 p.p.
O gráfico acima mostra o fechamento do título do tesouro norte-americano com prazo de 3 meses, pagando apenas 2,12%, atipicamente inferior a FFR atual, justamente por conta da quase unanimidade do mercado estar apostando na queda da taxa básica de juros já na próxima reunião.
O discurso de Powell pode ter sido utilizado mais como retaliação à pressão de Trump do que forte possibilidade de manutenção da FFR na próxima reunião de Comitê, por conta disso a reação no mercado de juros futuros foi considerada modesta. Por outro lado, no mercado de ações, a reação foi bem mais negativa, com os principais índices acionários cravando quedas significativas, abrindo possibilidade de topo duplo no S&P500 e Dow Jones.
Wall Street tem se mostrado claramente pró-dovish e, talvez por tabela, pró-Trump. O fato de Powell ter revidado os ataques nesta terça-feira acabou azedando o clima muito positivo observado nas últimas semanas. Apesar de não haver sinais claros de mudança de planos na política monetária (permanece a perspectiva de cortes na FFR ainda neste ano), Powell pode estar avisando que não vai ser um saco de pancadas de Trump na campanha presidencial.
Para uma assessoria personalizada e gratuita, clique aqui e agende uma reunião! Você receberá uma ligação minha, no dia e horário determinado.