Em um artigo anterior do blog, observamos o funcionamento básico das opções de compra (CALL) e das opções de venda (PUT). Mas você sabia que os operadores de renda variável mais experientes frequentemente combinam diferentes opções em uma ‘cesta’ para montar uma estratégia que busca objetivos específicos? Além disso, algumas opções disponíveis para uma mesa profissional de renda variável não aparecem no seu home broker por serem opções não listadas.
Estruturas de opções podem compor um cardápio de bons rendimentos
Historicamente, essas opções e as estratégias delas derivadas estavam inacessíveis aos pequenos e médios investidores. No entanto, a XP Investimentos trouxe um cardápio de diferentes estruturas de opções que está disponível para todos. É importante não confundir esses produtos com os COEs (Certificados de Operações Estruturadas), que foram tratados em outro artigo deste blog.
Aqui nos referimos a estruturas compostas por opções, eventualmente também por ações ou índices, da bolsa brasileira (B3), que ficam diretamente sob custódia do cliente final, e sujeitas portanto às mesmas condições de custódia e liquidez dos ativos que fazem parte da estrutura. Entretanto, vale ressaltar que caso o cliente opere com os componentes da estrutura, ele estará alterando a sua composição, e resultados diferentes do previsto na sua montagem poderão ser alcançados, inclusive causando prejuízos não antecipados.
Quando se trata de um cliente de perfil agressivo, que busca exposição na bolsa de valores com estratégias sofisticadas, essas estruturas podem se revelar bastante atraentes. Neste artigo, iremos tratar de uma delas, conhecida como Booster Shield.
Cada estrutura disponível, assim como outros investimentos na XP, traz uma lâmina que descreve o funcionamento da operação. Vejamos quais as principais informações que estão presentes na lâmina de uma estrutura do tipo Booster Shield.
Para isso, vamos utilizar um exemplo hipotético, uma estrutura relativa a um ativo chamado JBTA3. No início da lâmina de informações temos o seguinte:
Ganhar dobrado com a alta moderada de JBTA3 em até 25,66%, com proteção de 95% do patrimônio. Caso a barreira de 125,67% seja atingida, o ganho máximo está limitado a 6,56%.
Preço de referência: R$ 3,35
Note que, ao comprar a estrutura, a principal tese do investidor deve ser que JBTA3 irá se valorizar até o vencimento da operação (que também consta na lâmina). Entretanto essa valorização não será tão grande (não chegando a 25,67%). Nessas condições, o investidor ganhará duas vezes a valorização. Por exemplo, se a ação se valorizar 21%, o investidor ganhará 42%. Caso o ativo se valorize mais do que 25,67%, o ganho do investidor se limita a 6,56%. Além disso, o patrimônio do investidor está protegido em 95%, ou seja, se ao invés de se valorizar, JBTA3 se desvalorizar, a perda do investidor está limitada a 5%, mesmo se a desvalorização do papel for superior a isso. Uma tabela incluída na lâmina exemplifica o comportamento do investimento em diferentes cenários: em cada linha da tabela temos, na primeira coluna, um cenário de valorização/desvalorização de JBTA3 no período, e na segunda coluna o resultado correspondente para o cliente que adquirir a estrutura Booster Shield.
Performance do ativo | Lucro/Prejuízo da Operação |
50,00% | 6,56% |
25,68% | 6,56% |
25,66% | 51,32% |
20,00% | 40,00% |
10,00% | 20,00% |
5,00% | 10,00% |
0,00% | 0% |
-2,00% | -2,00% |
-5,00% | -5,00% |
-15,00% | -5,00% |
-90,00% | -5,00% |
Há ainda outro ponto importante a ressaltar. O ganho dobrado em relação à valorização do ativo subjacente é ‘desabilitado’ no caso do ativo alcançar a barreira de 25,67% de valorização a qualquer momento a partir da montagem da estrutura, e não apenas no seu vencimento. Por exemplo, imagine que o vencimento da estrutura é daqui a seis meses.
Entretanto, suponha que em qualquer dia de negociação ao longo desses seis meses, JBTA3 sofreu uma grande valorização, ultrapassando os 25,67% em relação ao preço inicial. A partir desse ponto, o investidor passaria a ter valorização de 1 para 1, limitada a 6,56%. Ou seja, se refizéssemos a tabela de cenários depois desse evento hipotético (uma valorização acima de 25,67% em relação ao preço na montagem da estrutura, em qualquer dia antes do vencimento), o comportamento da operação no vencimento passaria a ser:
Performance do ativo | Lucro/Prejuízo da Operação |
50,00% | 6,56% |
25,68% | 6,56% |
25,66% | 6,56% |
20,00% | 6,56% |
10,00% | 6,56% |
5,00% | 5,00% |
0,00% | 0% |
-2,00% | -2,00% |
-5,00% | -5,00% |
-15,00% | -5,00% |
-90,00% | -5,00% |
Essa segunda tabela normalmente não aparece na lâmina, mas esse comportamento está textualmente descrito nela, através da descrição de cenários, por exemplo, encontraríamos na lâmina um texto como:
Cenários
Em caso de alta de JBTA3, caso a barreira de ativação de 125,67% do preço inicial seja atingida
Caso JBTA3, a qualquer momento, atinja a barreira de ativação de 125,67% do preço inicial, cliente terá ganho de 1% para cada 1% na alta do ativo com ganho limitado de 6,56% no período.
Em caso de alta de JBTA3, caso a barreira de ativação de 125,67% do preço inicial nunca seja atingida
Investidor ganha dobrado até uma alta na ação de 25,66% do preço de entrada. Ganho máximo de 51,32% (2 x 25,66%).
Cenário de Perda
Cliente protege 95% da queda de JBTA3 em relação ao preço de execução da operação (e não em relação ao seu preço médio, no caso de operações feitas sob custódia).
O primeiro cenário descreve o comportamento exibido na Tabela 2. Um outro detalhe contido no final do texto acima é que o Booster Shield pode ser feito sob custódia ou não. Quando feito sob custódia, o cliente já deve possuir as ações do ativo subjacente. Por exemplo, se o cliente compra 400 unidades de Booster Shield de JBTA3 sob custódia ele já deve possuir 400 unidades de JBTA3. Quando o Booster Shield não é feito sob custódia, isso significa que a compra de JBTA3 será feita pela mesa de renda variável na montagem da operação, e obviamente o cliente deve possuir recursos para isso.
O que descrevemos até agora é o suficiente para que o investidor entenda como se comporta o Booster Shield. Mas se você é um entusiasta de investimentos, não basta entender o comportamento, você quer entender como é possível montar tal estrutura, não é mesmo? É o que veremos na próxima seção. Mas se os detalhes técnicos não lhe interessam, você pode pular diretamente para o Resumo, no final do artigo.
Detalhes técnicos
Como a mesa monta uma operação com esse comportamento? A dica está na própria lâmina, numa seção chamada ‘Composição do Produto’, onde encontraríamos para o nosso exemplo:
Composição do Produto
1 – Compra PUT – Strike 95%
2 – Venda CALL – Strike 106,56% Up and in 125,67%
3 – Compra CALL – Strike 100% Up and out 125,67%
4 – Compra da Ação
Vamos entender o que acontece. Talvez você já esteja enxergando alguns números familiares à operação. A proteção do investimento é de 95%. Ora, é justamente o que vai lhe fornecer o primeiro item, a compra de PUT com Strike 95%. Suponha que o preço de JBTA3 na montagem da operação é igual ao preço de referência, que vimos no começo do artigo, ou seja R$ 3,35. Isso significa que, na nossa cesta de opções, será colocada uma PUT com strike 0,95 × 3,35, ou seja, 3,18. No item 4, compramos a ação no preço atual, 3,35. Portanto esse nosso investimento estará protegido a 95%, pois se o preço cair abaixo de 3,18 teremos o direito de vender a ação por 3,18, não importa o quanto abaixo de 3,18 o preço possa chegar.
Agora é nos itens 2 e 3 onde a mágica do ganho dobrado com barreira acontece. Observe o item 3, ele diz respeito a compra de uma CALL no strike 100%, ou seja 3,35. É por isso que quando a ação subir acima de 3,35 você começa ganhando dobrado, pois você tem a ação (comprada no item 4) e uma CALL com strike nesse mesmo valor que você comprou a ação. Mas não se trata de uma CALL comum, como vimos no artigo básico sobre opções citado anteriormente. Lembra que falamos no começo de opções não listadas? Por vezes, essas opções não só são não listadas, quanto são exóticas, ou seja, têm um comportamento além do básico para uma opção do seu tipo.
Nesse caso, temos no item 3 uma CALL Up and Out. Esse tipo de CALL tem um parâmetro adicional ao strike, que é a sua barreira. Além do strike em 3,35, como já vimos, temos a barreira em 125,67%, ou seja em 1,2567 × 3,35 = 4,21. O significado da barreira numa CALL Up and Out é que se esta barreira, que está acima do preço atual, for atingida em qualquer momento até o vencimento, a CALL vira pó. Por isso o cliente passa a ganhar apenas 1 para 1 se a barreira de 4,21 for atingida, e não mais 2 vezes, porque daí por diante ele contará apenas com a ação que comprou (item 4 da cesta) e não mais com a CALL do item 3, que teria virado pó.
O item 2 é o que nos limita ao ganho de 6,56% caso a barreira de 4,21 seja atingida a qualquer momento. Note que se trata da venda de uma CALL no strike 106,56%, ou seja 1,0656 × 3,35 = 3,57. Se fosse uma CALL ordinária, sempre venderíamos nossas ações caso o preço ultrapassasse 3,57. Mas não se trata de uma CALL ordinária, é mais uma opção exótica, agora uma CALL Up and In, com barreira também em 125,67%, ou seja, 4,21. Uma CALL Up and In só é ativada caso a barreira, superior ao preço atual, for atingida, a qualquer momento até o vencimento. Por isso que, caso a barreira de 4,21 não for atingida, não entregaremos nossas ações por 3,57, pois essa CALL não teria sido ativada.
Assim, com a barreira de 4,21 em algum momento alcançada, teríamos uma cesta no vencimento equivalente a:
- Compra de PUT com strike 3,18 (95%)
- Venda de CALL com strike 3,57 (106,56%)
- Virou pó
- Ação comprada a 3,35 na montagem
Note que essa cesta resulta em lucros/prejuízos conforme descrito na Tabela 2.
Já no caso da barreira de 4,21 nunca ter sido alcançada (nem mesmo no vencimento), teríamos uma cesta, no vencimento, equivalente a:
- Compra de PUT com strike 3,18 (95%)
- Virou pó
- Compra de CALL com strike 3,35
- Ação comprada a 3,35 na montagem
O que equivale a Tabela 1, considerando apenas os cenários com ativo no vencimento abaixo de 25,67% de valorização, onde temos 2x de ganhos em relação à valorização de JBTA3.
Você pode se perguntar, por que utilizar essas CALLs exóticas? Não poderia ser feito com CALLs comuns? Note que não, se o item (2) da cesta fosse uma CALL comum com strike 106,56%, você limitaria seu ganho a 6,56% desde o início e não apenas com o atingimento da barreira. Você pode então propor, por que não fazemos simplesmente:
1 – Compra PUT – Strike 95%
2 – (Removemos)
3 – Compra CALL – Strike 100%
4 – Compra da Ação
Assim teríamos 2x ganhos sem limite e sem barreira, com proteção de 95%.
Ora, o problema aqui é o custo de montagem da estrutura. Note que agora você estaria apenas comprando opções, e uma CALL para vencimento em 6 meses no preço atual para uma ação com expectativa de crescimento, provavelmente não seria particularmente barata. Se, no vencimento, a ação estivesse por exemplo a 98% do valor inicial, suas opções 1 e 3 teriam virado pó, bem como o dinheiro que você investiu na compra delas. Já na estrutura Booster Shield proposta, temos ainda a seguinte informação na lâmina:
Valor atribuído a estrutura de opções: R$ 0,000
Isso significa que a CALL Up and In que você vendeu (item 2 da cesta) lhe rendeu um prêmio exatamente igual a soma do que você pagou para comprar os itens 1 (PUT em 95%) e 3 (CALL Up and Out), de tal maneira que o valor total gasto com opções foi zero! De fato, ao verificar sua nota de negociação da B3, você veria algo como (vamos supor que você comprou 400 unidades da estrutura):
(Venda da CALL Up and In)
Quantidade Base: 400
Preço de exercício: 3,57
Kock In and Up: 4,21
Vl. Negocio: 174,04
(Compra de PUT)
Quantidade Base: 400
Preço de exercício: 3,18
Vl. Negocio: -150,72
(Compra de CALL Up and Out)
Quantidade Base: 400
Preço de exercício: 3,35
Knock Out and Up: 4,21
Vl. Negocio: -23,32
Veja que 174,04 (lucro da venda) = 150,72 + 23,32 (custo das compras de opções). Por isso que a estrutura tem custo zero. Isso porém não exclui os custos para comprar as 400 ações de JBTA3 correspondentes (3,35 × 400 neste exemplo), nem os custos operacionais. Note que se trata de uma operação feita pela mesa de renda variável (RV), então você pagará os custos operacionais usuais de uso da mesa de RV, bem como as taxas da B3 (verifique os custos com o seu assessor).
Resumo
Vimos que montar uma cesta com opções pode lhe fornecer uma estrutura que estabelece uma estratégia de investimento interessante para um ativo em um determinado período. A XP Investimentos disponibiliza uma ampla gama de estruturas, para vários ativos, dependendo das condições do mercado.
Nesse artigo tratamos da estrutura chamada Booster Shield, que tanto pode amplificar os ganhos do investidor no caso de valorização do ativo dentro de uma faixa (seu lado Booster) quanto limitar suas perdas no caso de desvalorização (seu lado Shield).
A montagem de tal estrutura envolve o uso de opções não convencionais, frequentemente não listadas, com parâmetros específicos, que têm que ser compradas juntas para alcançar o comportamento desejado. Por isso é essencial o uso da mesa de renda variável para tais operações.
Entretanto, para o cliente, é extremamente simples: o assessor ao identificar oportunidades aderentes ao perfil do cliente pode lhe encaminhar a lâmina completa descrevendo o comportamento da estrutura selecionada, e basta o cliente aprovar a compra na quantidade desejada. Daí em diante o processo não precisa de nenhuma intervenção do cliente, no vencimento a estrutura vai se comportar de acordo com o cenário correspondente ao período em que a estrutura esteve vigente, tudo de maneira automatizada.
Na JB3 contamos com uma equipe experiente em renda variável que pode lhe auxiliar a identificar as melhores oportunidades dentro do seu perfil de investidor.
Clique aqui para saber como adicionar a Booster Shield à sua estratégia de investimentos.