Os Comitês de Política Monetária do Banco Central do Brasil, FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) e BoJ (Bank of Japan) se reuniram nesta semana. O escopo de tal encontro consistia em debater sobre a taxa básica de juros e alinhar suas respectivas estratégias de comunicação e atuação no mercado financeiro.
Federal Reserve – FED
Em linha com a ampla expectativa de vários players globais, o FED reduziu a meta para a FFR (Federal Funds Rate) para o intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano, porém retirou de seu comunicado a expressão de agir conforme apropriado para sustentar a expansão econômica.
A retirada deste trecho (palavras-chave importantes para sinalizar futuras decisões, bem como guiar as expectativas de mercado) pode sinalizar interrupção ou pausa no ciclo de cortes na FFR a curto prazo.
Em entrevista coletiva concedida à imprensa após a reunião de Comitê, o chairman do FED, Jerome Powell, confirmou que a autoridade monetária norte-americana provavelmente não irá cortar a FFR novamente nas próximas reuniões, exceto se houver grande alteração no cenário macroeconômico.
Na avaliação do FED, a política monetária está, agora, numa boa posição para operar nas condições atuais de mercado e ritmo de crescimento da economia norte-americana. Alguns players de mercado estavam preocupados que o FED pudesse simplesmente interromper o ciclo de cortes nesta reunião e colocar um ponto final, sem mencionar possibilidade de mudanças caso o cenário sofra alteração que justifique tal movimento.
Perspectivas do FED
Da forma como o comunicado do FED ficou exposto, os investidores/operadores entenderam que a FFR pode ter sofrido uma pausa no ciclo de cortes, podendo a flexibilização na taxa básica de juros ser retomada no futuro, caso necessário. Por enquanto, o cenário base do FED é de manutenção do crescimento econômico a ritmo moderado, mercado de trabalho forte (segurando a taxa de desemprego no nível mais baixo das últimas décadas) e retorno gradual da inflação ao centro da meta de 2% ao ano.
O principal problema do FED, no momento, não está no cenário base (alinhado com as projeções do passado), nem no ajuste da política monetária, mas sim com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ataques da Casa Branca tem sido frequentes para forçar a autoridade monetária flexibilizar ainda mais a sua estratégia.
O índice DXY (indicador que reflete o desempenho do dólar contra cesta de principais moedas globais) acumula forte valorização desde o início de 2018. A Casa Branca tem demonstrado desconforto com a crescente arrancada do dólar, movimento que dificulta o acesso de produtos norte-americanos a outros mercados globais.

Trump quer que o FED aumente a carga dovish na política monetária para forçar uma queda do DXY. Com o aumento das críticas do presidente dos Estados Unidos, o dólar começou esboçar movimento de correção. O índice, que estava lateralizado em setembro, sofreu queda relevante no mês de outubro.
Ainda sim, o movimento de correção parece insuficiente para a Casa Branca. Logo após a decisão do FED desta última quarta-feira, Trump realizou novos ataques verbais contra Powell, ressaltando que a política do FED está prejudicando a competitividade dos Estados Unidos no comércio mundial.
Bank of Japan (BoJ)
A surpresa da rodada de banqueiros centrais da semana ficou por conta do BoJ. A autoridade monetária japonesa deixou inalterada a política monetária após a reunião de Comitê realizada nesta última quinta-feira, alinhada com as expectativas do mercado local e internacional.
Entretanto, o BoJ roubou a cena global ao alterar o seu comunicado de política monetária, deixando o sinal mais forte de que poderá cortar novamente a taxa básica de juros, bem como a meta para a taxa de juros do título soberano japonês com vencimento em 10 anos, num futuro próximo.
No texto emitido após a reunião de Comitê, o BoJ deixou de mencionar que manteria os juros ultrabaixos por um período prolongado de tempo, ao menos até a primavera de 2020, conforme vinha fazendo nos últimos comunicados. A partir de agora, o BoJ espera que os juros de curto e longo prazo permaneçam nos níveis atuais ou mais baixos o quanto for necessário para prestar atenção à possibilidade de que a força para alcançar a inflação seja perdida.
A meta de inflação a ser perseguida no Japão também é de 2% ao ano. Porém, é um número praticamente fictício, já que a economia opera muito abaixo da meta de inflação há vários anos. Atualmente a inflação anual no Japão é de apenas 0,5%.
Durante entrevista coletiva concedida à imprensa após a reunião de Comitê, Haruniko Kuroda afirmou que o Banco Central do Japão tem espaço para avançar com as taxas de juros em território negativo ainda mais profundo. Isso ocorre não somente pela meta de juros de curto prazo (taxa básica de juros no Japão), atualmente em -0,1%, mas também na meta ousada de taxa de juros para o título da dívida soberana do governo japonês com vencimento em 10 anos, atualmente com objetivo de 0%.
Taxa básica de juros brasileira
No Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central ratificou as expectativas do mercado, confirmando corte de 0,50 p.p. na taxa básica de juros (de 5,5% ao ano para 5% ao ano), além de sinalizar para nova redução de mesma magnitude na próxima reunião de Comitê a ser realizada nos dias 10 e 11 dezembro/2019.
Em função da clareza do comunicado, o mercado já considera que a taxa Selic vai terminar este ano aos 4,5% ao ano. Nível extremamente baixo para os padrões históricos brasileiros, porém alinhado com os movimentos observados em outros banqueiros centrais de países emergentes.
Entretanto, ao contrário de algumas projeções do mercado, não houve sinalização forte de novos cortes na taxa Selic para o próximo ano. O Banco Central ressaltou em seu comunicado que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo, referindo-se ao que poderia acontecer a partir de janeiro/2020.
Por outro lado, a autoridade monetária brasileira também não fechou as portas para cortes na taxa Selic ano que vem. Isso tem permitido alguns economistas trabalhar com expectativa de taxa básica de juros a 4% ao ano ao fim deste ciclo de afrouxamento monetário.
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