Ainda há fôlego para o mercado tolerar um mergulho mais profundo da taxa básica de juros brasileira. Nesta segunda-feira, a estimativa para a taxa de juros (Selic) no final de 2019 recuou de 4,75% para 4,5% no TOP 5, grupo de economistas que mais acertam as previsões no Relatório Focus.
A nova projeção de uma taxa básica de juros ainda mais baixa no fim deste ano foi influenciada pela queda na expectativa de inflação, de 3,42% na semana passada para 3,28% nesta semana. Neste último mês de setembro, o Brasil registrou uma deflação histórica de 0,04%, alcançando o resultado mais fraco do IPCA em meses de setembro nos últimos 21 anos.
No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação brasileira é de apenas 2,89%, significativamente abaixo da meta a ser perseguida este ano de 4,25%. Para 2020, a meta de inflação será reduzida para 4,00%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo e para cima. Isso significa que a inflação atual estaria próxima da banda inferior da margem de tolerância da meta de inflação para o ano que vem, evento atípico para economia brasileira.
A meta de inflação continuará sendo reduzida gradualmente em 2021 e 2022, cedendo para 3,75% e 3,50%, respectivamente. Mesmo considerando a meta mais distante definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), onde há bastante folga e margem de manobra para um trabalho bem sucedido do Banco Central, os números atuais revelam razoável espaço para continuação do processo de afrouxamento das condições monetárias.
Histórico da taxa de juros e IPCA
Apesar dos sucessivos cortes já praticados na taxa básica de juros (importante lembrar que cerca de três anos atrás a Selic operava estável aos 14,25%), a reação do mercado e da própria economia tem sido bastante positiva, justamente porque este movimento tem respaldo da inflação.
A estratégia praticada pelo Banco Central nestes últimos três anos não somente foi assertiva, como reconquistou a confiança dos agentes no sistema de metas de inflação. O IPCA não encosta no teto superior da margem de tolerância desde dezembro de 2016, ressaltando a eficácia da autoridade monetária.
Pode-se notar que, desde 2017 a inflação está oscilando mais próximo da banda inferior da margem de tolerância do que do centro da meta. Tal evento é extremamente raro para a economia brasileira. A expectativa demonstrada no Relatório Focus é que o IPCA continuará oscilando abaixo do centro da meta nos próximos meses/anos, mesmo considerando queda na taxa básica de juros.
A manutenção da inflação baixa proporciona o melhor quadro de sustentabilidade para o Banco Central continuar explorando níveis cada vez mais profundos de taxa básica de juros. Aproximando-se, assim, do custo de capital praticado em vários outros países, não somente desenvolvidos, mas também de economias emergentes ou que estão em fase de desenvolvimento.
Taxa de juros ao redor do mundo
Observando o cenário macro global, o movimento do Banco Central brasileiro pode ser considerado até mesmo conservador. No Chile, por exemplo, a taxa básica de juros é de apenas 2%, porém a inflação acumulada nos últimos 12 meses chega a 2,24%. Já na Coreia do Sul, a taxa básica de juros é de 1,5% (menor que a taxa básica de juros norte-americana), porém a economia roda em deflação de 0,43% nos últimos 12 meses.
Na Índia, a inflação acumulada é de 6,31%, porém o Reserve Bank of India (autoridade monetária local) está cortando sua taxa básica de juros, que na última reunião de Comitê cedeu para 5,15%. Na Rússia, apesar do aumento na inflação deste ano (atualmente em 4,32%), a autoridade monetária local também está cortando sua taxa básica de juros, atualmente em 7%, com perspectiva de novos cortes nas próximas reuniões de Comitê.
A África do Sul também está cortando a taxa básica de juros com uma inflação não tão baixa para os padrões históricos. Atualmente, a inflação da economia sul-africana está em 4,35% no acumulado dos últimos 12 meses, mas mesmo assim o South African Reserve Bank cortou a taxa básica de juros de 6,75% para 6,50% deixando a porta aberta para novos cortes no médio prazo. Até mesmo a toda problemática Turquia, que experimentou a fúria do mercado no ano passado, opera atualmente com juro real de apenas 1,5% (inflação de 15% com taxa básica de juros de 16,50%).
Voltando ao Brasil
Analisando as condições macro interna e externa, além da estratégia de vários banqueiros centrais mundiais, a projeção de Selic de 4,5% do TOP 5 do Focus pode ser considerada plausível.
Juro real muito baixo (ou mesmo negativo) deixou de ser uma exclusividade de países desenvolvidos há algum tempo. Esta nova condicionante macro pode forçar revisão de estratégias e balanceamento de portfólio de vários investidores acostumados com os velhos tempos de juros elevados no Brasil.
Entretanto, é importante ter prudência e trabalhar uma boa estratégia que esteja alinhada ao perfil e objetivo de cada investidor. Nossa equipe de assessores está à disposição para fornecer suporte gratuito a qualquer investidor interessado.
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