O comediante Volodymyr Zelenskiy venceu pela esmagadora maioria de votos a eleição presidencial na Ucrânia neste último domingo. Com cerca de 73% dos votos, Zelenskiy ficou muito a frente do seu opositor, Petro Poroshenko, atual presidente da Ucrânia que buscava reeleição.
Zelenskiy é mais um caso de presidente eleito sem nenhuma experiência política. Utilizou a mesma estratégia adotada por outros líderes globais, evitando exposição demasiada na imprensa tradicional durante a campanha, ao mesmo tempo em que se manteve bastante ativo nas redes sociais.
Além de conseguir capitalizar o sentimento de mudança e/ou outsider da população com uma estratégia bem sucedida nas redes sociais, Zelenskiy também incorporou fortemente os votos de protesto contra a política tradicional. A Ucrânia ainda passa por um período delicado. A taxa básica de juros segue elevada, aos 18% ao ano, na tentativa de controlar a inflação de 8,6% ao ano no acumulado dos últimos 12 meses (no final de 2018 a inflação estava em 10%), ao mesmo tempo em que o ritmo de crescimento não tem sido forte o suficiente para abaixar a taxa de desemprego de 9,3%, considerada elevada.
Não por acaso os ucranianos elegeram um outsider, já que os políticos tradicionais decepcionaram, ou não atenderam as expectativas, de grande parte da população. O fenômeno agravante, que não é nenhuma novidade, é o fato de o outsider ser um comediante de programa de televisão com propostas muito vagas, o que sinaliza, também, acréscimo do chamado a voto de protesto.
Basicamente a agenda de Zelenskiy é acabar com a corrupção. Entretanto, outros fatores relevantes são considerados uma incógnita na nova gestão. A Ucrânia tem de escolher se aproxima de vez com o ocidente ou volta a ser quintal da Rússia. Desde a anexação pelos russos da península da Crimeia, em 2014, até então território ucraniano, 13 mil pessoas já morreram em conflitos de rebeldes separatistas.
Zelenskiy está inclinado a se aproximar cada vez mais do ocidente, porém é necessário experiência e estratégia política para enfrentar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, exigindo o fim da ocupação de territórios ucranianos, bem como compensação pelos prejuízos causados pelos conflitos dos últimos anos, o que deixou o país entre os mais pobres de toda a Europa.
Apesar dos grandes desafios políticos e econômicos, Zelenskiy teve uma ascensão extremamente rápida. Sua candidatura foi anunciada na virada de ano, aproveitando o momento de pico de audiência no programa de sátira política na televisão em que interpreta o papel de um professor que se torna presidente acidentalmente.
Três meses depois do anúncio de sua candidatura, Zelenskiy ganhou o primeiro turno das eleições presidenciais com 30% dos votos. No segundo turno, três semanas mais tarde, obteve mais que o dobro de votos, sem apresentar plano concreto de governo. Mais um fenômeno que desafia cientistas políticos do mundo inteiro. O que antes era apenas uma chacota num programa de televisão, agora se tornou realidade para o cargo mais importante do país.
O forte crescimento combinado com o resultado esmagador nas urnas ressalta a importância das redes sociais no jogo político atual, além da alimentar o crescimento dos conhecidos votos de protesto, reflexo de uma insatisfação popular com a classe política tradicional ou com o establishment.
Fenômenos de quebras de status quo estão ocorrendo em efeito dominó mundo afora. A ascensão do blogueiro e comediante Beppe Grillo na Itália deu força ao movimento 5 estrelas (considerado radical e anti-euro), atualmente um dos principais pesadelos dos líderes europeus. O Brexit, em curso, é outro exemplo de consequência de um movimento anti-establishment. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, também é visto por alguns analistas políticos nesta mesma linha, sua vitória era considerada improvável até mesmo nas primárias do partido republicano.
A vitória de Jair Bolsonaro, no Brasil, é um dos casos mais recentes de força das redes sociais em campanhas eleitorais e pode ter inspirado Zelenskiy a fazer algo semelhante. Com tempo de propaganda política na televisão praticamente inexpressivo, Bolsonaro se elegeu presidente incorporando sentimentos mistos da população, desde o combate à corrupção ao descontentamento com a classe política tradicional.
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